Já ouviu falar em Medicina baseada em valor ou VBHC?

A ideia é simples. Se você vai comprar um carro, sua escolha será baseada no legado que a marca tem. Ou seja, este carro quebra com frequência? O consumo é alto? É confortável? E ainda se você não souber nada disto ainda pode fazer um Test Drive.

Ou seja você pode avaliar o VALOR deste produto e assim decidir se quer comprá-lo ou se irá procurar outro. Mas quando você procura um médico ou um hospital como você escolhe? Não sabemos o real valor desse serviço, o número de efetividade, de eficiência, ou o número de casos que complicaram. Tomamos a decisão pela grife, por indicação, porque está no “livrinho do convênio” ou por outro critério subjetivo que não reflete a verdadeira eficiência ou eficácia deste prestador.

Ainda fica mais difícil se esta decisão for de uma empresa com dezenas ou milhares de vidas ou de um governo que vai decidir e avaliar os serviços prestados por um aparelho público.

 Hoje o Sistema de pagamento por taxa de serviço (fee for service) estimula o prestador a produzir mais e mais, pois quanto mais ele produz mais ele recebe, independente da qualidade. Isto faz com que cada vez mais gastos ocorram, e como consequência, o sistema não se sustenta. O resultado? Aumento das prestações e serviços de qualidade não padronizada.

É aí que surge o conceito de se pagar serviços de saúde pelo resultado e não por unidade. 

Saúde com base em valor é um modelo de prestação de saúde no qual os provedores, incluindo hospitais e médicos, são pagos com base nos resultados de saúde do paciente. Numa tradução mais próxima, podemos chamar de cuidados de saúde baseados em valor – ou, no caso, resultado. O conceito de VBHC foi proposto em 2006 por Michael Porter, economista da Escola de Negócios de Harvard, que introduziu a ideia de que os sistemas de saúde devem focar em entregar o melhor resultado em saúde como desfecho final (melhora da qualidade de vida).

Sob acordos de cuidados baseados em valores, os provedores são recompensados ​​por ajudar os pacientes a melhorar sua saúde, reduzir os efeitos e a incidência de doenças crônicas e viver uma vida mais saudável com base em evidências.

O cuidado baseado em valor difere de uma abordagem de taxa por serviço ou capitalizada (modelos atuais), em que os provedores são pagos com base na quantidade de serviços de saúde que prestam. 

O “valor” em cuidados de saúde baseados em valor é derivado da medição dos resultados em relação ao custo de entrega dos resultados. Estes valores, que chamamos de desfechos, são dados conhecidos como PROM, PREM e quantidade de eventos clínicos como por exemplo reinternações, infecção, falha etc...

PROM (Patient Reported Outcomes Measures), que diz respeito ao desfecho clínico pela opinião do próprio membro, ou seja, o membro avaliando sua melhora de saúde. PREM (Patient-reported Experience Measures), que refere-se à experiência do paciente durante o procedimento – seja uma consulta, seja uma cirurgia ou internação.

 

Quais são os benefícios da prestação de cuidados de saúde com base no valor?

Os benefícios de um sistema de saúde baseado em valores estendem-se a pacientes, provedores, pagadores, fornecedores e a sociedade como um todo.

Os pacientes gastam menos dinheiro para ter uma saúde melhor. Gerenciar uma doença ou condição crônica como câncer, diabetes, hipertensão, DPOC ou obesidade pode ser caro e demorado para os pacientes. Os modelos de atendimento baseados em valores focam em ajudar os pacientes a se recuperarem de doenças e lesões mais rapidamente e evitar doenças crônicas em primeiro lugar. Como resultado, os pacientes enfrentam menos consultas médicas, exames médicos e procedimentos, e gastam menos dinheiro em medicamentos prescritos, pois a saúde a curto e longo prazo melhora.

Os pagadores controlam os custos e reduzem os riscos. O risco é reduzido ao se espalhar por uma população maior de pacientes. Uma população mais saudável com menos sinistros se traduz em menos drenagem de fundos e investimentos premium dos pagadores. O pagamento baseado em valor também permite que os pagadores aumentem a eficiência agrupando os pagamentos que cobrem todo o ciclo de atendimento do paciente, ou para condições crônicas, cobrindo períodos de um ano ou mais.

Os fornecedores alinham os preços aos resultados do paciente. Os fornecedores se beneficiam da capacidade de alinhar seus produtos e serviços com resultados positivos para os pacientes e custos reduzidos, uma proposta de venda importante, visto que os gastos nacionais com saúde com medicamentos controlados continuam aumentando.

A sociedade se torna mais saudável enquanto reduz os gastos gerais com saúde. Menos dinheiro é gasto ajudando as pessoas a lidar com doenças crônicas e hospitalizações caras e emergências médicas. Em um país onde os gastos com saúde representam quase 18% do Produto Interno Bruto (PIB), os cuidados baseados em valores prometem reduzir significativamente os custos gerais gastos com saúde.

  É fundamental que os grandes serviços possam mensurar seus resultados baseados SEMPRE na saúde do paciente e na qualidade de vida gerada. Estudos econômicos  completos avaliando por exemplo: custo-benefício, custo-efetividade dos procedimentos é fundamental para a implantação destes sistemas. Hoje, em ortopedia e traumatologia são quase que inexistentes estes tipos de estudos que devem ser sempre baseados em pesquisas científicas devidamente aprovadas pelos diversos comitês de ética em pesquisa pois deverão utilizar medidas diretamente relacionadas a dados pessoais de pacientes. No programa de pós-graduação em ciências da saúde aplicada ao esporte e à atividade física da Escola Paulista de Medicina – UNIFESP coordeno uma linha de pesquisa que visa este tipo de avaliação em ortopedia e traumatologia do esporte e atividade física. Em breve teremos resultados!

 

 

Referências: https://catalyst.nejm.org/about/journal