Priorizar a saúde pode ajudar a economia? É chegada a hora de mudanças.
Previsões bem sustentadas sugerem que a pandemia e seus efeitos custarão à economia global até 8% do PIB real em 2020. No entanto, segundo pesquisas, uma condição - a precariedade na saúde - custa o dobro: cerca de 15% do PIB real global com mortes prematuras e perda de potencial produtivo entre a população em idade ativa.
À medida em que as organizações em todo o mundo procuram ferramentas para acelerar a recuperação econômica, repensar a saúde como um investimento e não apenas um custo, pode acelerar o crescimento nas próximas décadas. A pandemia COVID-19 coloca a saúde como parte das discussões de crescimento econômico pois o debate político muitas vezes se concentrava no controle dos custos da saúde.
Uma melhoria das condições de saúde global alimentou o crescimento no século passado, ampliando a força de trabalho e aumentando a produtividade. Na verdade, os historiadores estimam que a melhoria da saúde foi responsável por cerca de um terço do crescimento geral do PIB per capita das economias desenvolvidas no século passado.
Mas como exatamente uma saúde melhor promove o crescimento econômico?
Em primeiro lugar, é provável que menos pessoas morram prematuramente, de modo que a população em idade produtiva aumentará. Quando as pessoas estão mais saudáveis, as faltas no trabalho por doença diminuem e menos trabalhadores se aposentam por invalidez.
A pandemia de COVID-19 atingiu as pessoas com condições de saúde crônicas mais duramente - por exemplo: diabetes, hipertensão, distúrbio pulmonar obstrutivo crônico e obesidade. Assim, melhorando a saúde da população mundial não só aumentaria a resiliência contra futuras pandemias, mas também melhoraria drasticamente a qualidade de vida de milhões de pessoas que sofrem com doenças crônicas. A expansão do acesso à atenção primária pode reduzir a carga global de doenças em 40 por cento acima 20 anos segundo os pesquisadores.
Os benefícios para a saúde devem vir da prevenção por meio de ambientes mais saudáveis, comportamento mais saudável e cuidados preventivos (incluindo parto seguro, vacinação e adesão a medicamentos que reduzem o risco) em vez das políticas atuais que visam apenas o tratamento de doenças. Os sistemas atuais de saúde não suportam a grande demanda de pacientes e os altos custos de tratar quem está doente e isto é constatado na má qualidade de muitos serviços públicos e nos aumentos de prestações dos planos de saúde a cada ano.
A pandemia atingiu desproporcionalmente minorias e famílias de baixa renda. Até mesmo nos Estados Unidos as taxas de mortalidade têm sido muito mais altas entre latinos e negros do que entre a população branca. Da mesma forma, no Reino Unido, grupos de minorias étnicas relataram taxas de mortalidade de 40 a 200 por cento mais altas do que as de britânicos brancos. Minorias e famílias de baixa renda enfrentam um golpe duplo de risco econômico e de saúde.
A resposta à pandemia COVID-19 mostrou que a inovação pode ser acelerada nas circunstâncias certas e que abordagens colaborativas, compartilhamento de conhecimento e informações transparentes são aspectos críticos. É a quebra da inércia por aumento da entropia, ou no jargão meteorológico a “tempestade perfeita”.
O genoma completo do SARS-CoV-2, por exemplo, foi sequenciado semanas após a identificação do novo corona vírus. Em junho de 2020, cientistas de todo o mundo haviam compartilhado mais de 50.000 sequências do genoma viral e cerca de 180 vacinas estavam sendo preparadas, muitas representando colaborações entre setores e países. A adoção da telemedicina disparou: em 2019, 11% dos consumidores dos EUA usaram serviços de telessaúde; agora 46% os usam para substituir as consultas presenciais suspensas durante a crise. A resposta à pandemia também demonstrou que o sistema complexo da saúde deve ser transformado rapidamente - por exemplo, repensando os fluxos de pacientes e da força de trabalho nas enfermarias COVID-19, melhorando a rotação dos centros cirúrgicos, otimizando internações e acelerando a reabilitação para altas precoces e até mesmo melhorando a gestão de pessoas e capacitação de equipes multidisciplinares.
Devemos fazer mais para priorizar a pesquisa nas áreas com as maiores necessidades não atendidas e para superar algumas das barreiras de incentivos que arrastam para baixo a pesquisa em ciência preventiva e antibióticos. Será que a energia renovada que agora cobra a pesquisa de vacinas e a colaboração entre países pode ser mantida além da pandemia COVID-19?
Sem dúvida, avanços na saúde podem mudar o jogo social e econômico. Afinal, poucos investimentos atendem a tantas necessidades sociais de hoje, melhorando substancialmente o bem-estar e reduzindo a desigualdade, ao mesmo tempo em que proporcionam uma injeção de ânimo impressionante para a economia global. À medida que o mundo enfrenta a pandemia, tem uma oportunidade única em uma geração não apenas de restaurar a normalidade, mas também de fazer avançar a saúde e a prosperidade de forma dramática.
Texto adaptado, tradução livre e referências: https://www.mckinsey.com/industries/healthcare-systems-and-services/our-insights/how-prioritizing-health-could-help-rebuild-economies.