Relato de um caso. A lesão do LCM com InternalBrace.
Revendo alguns casos documentados de lesão do ligamento colateral medial (LCM), me deparei com um caso de 2016. Era um caso de revisão de uma reconstrução do ligamento cruzado anterior por uma falha associada à lesão do ligamento colateral.
Já há algum tempo me preocupava em diferenciar as lesões com instabilidade rotatória ântero medial das lesões do LCM apenas, pois acreditava, e acredito até hoje, que se tratam de lesões distintas e devem ser tratadas de forma igualmente distintas.
Por conta disso desenvolvi um método de tratar as lesões do Ligamento oblíquo posterior independente da reconstrução do LCM, mas esta é outra história.
Bom, na época, meu paciente tinha uma competição importante para sua carreira e não queria correr risco de não participar, ele havia se preparado muito para isto. Seria uma tão sonhada prova do Ironman. A instabilidade e dor que ele tinha era incompatível com os treinos, optamos então por realizar a cirurgia.
A minha opção foi realizar a utilização de enxerto de banco de tecidos para minimizar a morbidade da região doadora, e também realizar uma reconstrução minimamente invasiva para o LCM, já que havia constatado que o problema não era de instabilidade rotatória. Mas como resolver a questão da imobilização pós-operatória em decorrência da reconstrução do LCM?
Precisava minimizar o risco de limitação de amplitude de movimento por artrofibrose, ocorrência mais comum nas reconstruções das estruturas mediais.
A solução que encontrei foi utilizar um augmentation, como proteção a reconstrução do LCM com FiberTape com um InternalBrace.
A reconstrução foi realizada sem intercorrências, usei patelar homólogo para LCA e enxerto homólogo do tibial posterior para o LCM. Deram ótimos enxertos, fortes e grandes o suficiente. Na artroscopia observei uma boa cartilagem articular, uma ruptura completa do neoligamento do LCA e uma abertura anormal medial sem sinal de menisco flutuante. De fato, o menisco medial estava bem.
Através de dois acessos mediais pequenos localizei o epicôndilo medial, realizei a abertura da primeira camada medial, e observei os remanescentes do LCM. Passei um fio guia posterior e proximal ao epicôndilo, não usei escopia. Na tíbia, localizei a fáscia do sartório e a interlinha articular, posicionei meu guia para a realização da fixação do LCM há mais ou menos 06 - 07 cm distal a superfície da tíbia. Com o próprio FiberTape fiz um rápido teste de isometria, mudei um pouco para cá e um pouco para a lá o posicionamento e quando estava satisfeito passei e fixei o enxerto.
Depois, pelas mesmas incisões, fixei o Tape com âncoras com o cuidado de não deixá-lo tenso demais.
O procedimento durou uns 70 minutos e o paciente recebeu alta hospitalar após 7 horas de internação, foi para casa bem e sem nenhum tipo de imobilização. No dia seguinte já estava na fisioterapia e em 45 dias liberei treinos em piscina com pull buoy. No terceiro mês, liberei para praticamente todas as modalidades esportivas. Foi uma vitória vê-lo ir para a prova depois de 08 meses de muita dedicação e esforço.
A utilização do InternalBrace foi uma solução muito feliz para este caso, dando segurança para a liberação da fisioterapia mais agressiva em relação ao ganho de amplitude de movimento e da marcha.
Após 07 anos deste caso, tenho usado o Fibertabe em todas as minhas reconstruções do Ligamento cruzado posterior, em algumas lesões periféricas, fraturas de patela e na lesão do tendão patelar. Nunca observei nenhuma reação de corpo estranho e nenhum caso de limitação de amplitude de movimento. Inovação é transformar boas ideias em melhora na qualidade de vida dos pacientes através de algo viável, factível e acessível.
Compreender as necessidades de nossos pacientes buscando solucionar seus problemas de forma individualizada e focada em bem estar e qualidade de vida é a forma mais apropriada de praticar a medicina.